As tardes no bairro da Boa Vista pareciam eternas. Rua das Ninfas. O nome por si só já inspira. Recife tem ruas com nomes lindos e em alguns casos, bem melancólicos. Rua da Soledade, Angustura, Saudade, Aurora. Manuel Bandeira já escreveu tão bem sobre esses nomes que eu prefiro voltar às lembranças da minha infância. Picolé, jambeiro, o vendedor de cavaquinho e as conversas intermináveis com meu melhor amigo, Quinca. Ninguém o via, claro. Só eu tinha o privilégio.
Quinca tinha o cabelo loiro e liso, um corte que na época chamavam "meia cabeleira". Sempre o via com a mesma roupa, uma camisa branca de manga comprida, calça também branca, cinto, uma gravatinha borboleta. Parecia estar sempre indo a uma primeira comunhão. Na época achava absolutamente normal que meu amigo sempre usasse a mesma roupa.
Quando tinha uns nove anos, minha avó morreu. A casa foi vendida. Acabou-se uma fase da minha vida. E também a minha amizade com Quinca. Lembro de passar na frente da casa com minha mãe de carro e, ao olhar para o seu interior, ver meu pequeno amigo brincando. Algumas vezes ele me acenava com cara tristonha.
Quando cheguei à adolescência passei a achar tudo aquilo ridículo. Minha mãe gostava de contar para meus amigos e namoradas sobre meu amigo de infância, e me deixava morto de vergonha. Cheguei a evitar a Rua das Ninfas. Quando era inevitável, virava a cara ao passar pela casa de Vó Berta.
Já adulto e casado, fui ao escritório da empresa do plano de saúde, para solicitar o reembolso das despesas com o anestesista do parto cesariano do meu primeiro filho. Para a minha surpresa, a seguradora ficava na casa que havia sido da minha avó! Me emocionei ao entrar na casa e ver que ela pouco havia mudado. Foi estranho perceber que a sala agora era usada por clientes em espera. Sentei para aguardar a minha vez. E de canto de olho vi um rosto a me observar: Um menino de ar sorridente. Achei estranhas as suas roupas, totalmente fora de moda. Ele estava em pé e me olhava fixamente, a ponto de me constranger. Não parecia ser parente de ninguém, não falava com as outras pessoas, apenas me fitava e ria com sincero contentamento. O tempo ia passando, e eu me angustiava com a cena. Finalmente chegou a minha vez de ser atendido. Ao sair, percebi que o garoto ainda me observava. Passei rapidamente por ele. Ao chegar à calçada um arrepio me percorreu a espinha. O menino era Quinca! Meu amigo de infância, companheiro de tantas tardes ensolaradas na Boa Vista. Continuava um garoto, as mesmas roupas, o mesmo sorriso. Pensei em voltar, mas tive medo. Medo da minha reação, da certeza que eu tinha de que agora tudo havia mudado. Eu era um adulto, e aqueles dias felizes nunca mais voltariam. Ficara apenas um menino, um espectro, que tomava conta daquela casa e de todo aquele passado.
História assombrada enviada por Breno
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