![]() |
A inscrição fenícia da Paraíba (1871). Fraude? |
Por Johnni Langer
Em 1871, o IHGB recebeu uma carta vinda de uma localidade chamada Paraíba (existem várias regiões, cidades e rios com esse nome no Brasil). A mesma descrevia o encontro de uma grande laje na fazenda de Joaquim Alves da Costa, onde existiriam letras misteriosas, que foram copiadas pelo filho do fazendeiro e enviadas à capital. O então diretor do Museu Nacional (RJ), o arqueólogo Ladislau Neto, enviou aos jornais uma tradução dessas letras, que descreveriam uma expedição saída da cidade de Sidon (na Fenícia), durante o reinado de Hiram I, que se perdeu e veio parar no Brasil. A notícia correu o mundo, sendo noticiada por diversos periódicos e por grandes autoridades. Em 1874 os epigrafistas S. Euting e Schlottmann demonstraram que a inscrição era uma fraude. O próprio Ladislau Neto admitiu o seu equívoco no ano de 1885, em uma carta enviada à maior autoridade em feniciologia do século XIX, o francês Ernest Renan (Neto, 1885).
Os membros do IHGB e do Museu Nacional tentaram localizar a fazenda onde havia sido realizada a descoberta, mas foi constatado que Joaquim Costa e sua fazenda não existiam. Foi um embuste realizado com a intenção de desmoralizar a academia imperial ou ao contrário, glorificar algum de seus membros. Nesta última hipótese, a maioria dos pesquisadores sempre considerou que Ladislau Neto teria feito a fraude. Mas segundo nossos estudos, a inscrição da Paraíba possivelmente foi executada pelo arqueólogo e epigrafista francês Conde de La Hure. Uma vingança pela falta de incentivo financeiro do IHGB às suas pesquisas na pré-história de Santa Catarina (Langer, 2000, p. 80-90). No século XX, alguns estudiosos declararam que a inscrição da Paraíba era verdadeira, como o norte-americano Cyrus Gordon. A polêmica prossegue até hoje.
![]() |
A pedra de Diamantina (1970) |
![]() |
A pedra de Gaspar (1972) |
A hipótese da vinda de fenícios ao nosso país é conhecida desde a colônia, mas somente estes três casos constituem (ou poderiam constituir) uma evidência arqueológica desse antigo mito. A famosa Pedra da Gávea é descartada, porque já foi evidenciada sua origem natural.
AGRADECIMENTOS:
Ao historiador Luis Galdino (Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo), pelas fotos e informações enviadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
LANGER, Johnni. Mito, história e literatura: as cidades perdidas do Brasil. História e Perspectivas (UFU), Uberlândia, n. 14, p. 67-83, 1996a.
- A Esfinge atlante do Paraná: o imaginário de um mito arqueológico. In: História, questões e debates (UFPR), Curitiba, ano 13, n. 25, p. 148-163, 1996b.
- As cidades imaginárias do Brasil. Curitiba: Secretaria de Cultura do Paraná, 1997a.
- Mitos arqueológicos e poder. Clio - Série Arqueológica (UFPE), Recife, v. 1, n. 12, p. 109-125, 1997b.
- O mito do Eldorado. Revista de História (USP), São Paulo, n. 136, p. 25-40, 1997c.
- O megalitismo na pré-história brasileira. Revista de Arqueologia (SAB - Sociedade Brasileira de Arqueologia), Rio de Janeiro, vol. 10, 1997d.
- Enigmas arqueológicos e civilizações perdidas no Brasil novecentista. Anos 90 (UFRGS), Porto Alegre, n. 9, p. 165-185, 1998.
- As origens da arqueologia clássica. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE - USP, Universidade de São Paulo), São Paulo, n. 9, p. 95-110, 1999.
- Ruínas e mito: a arqueologia no Brasil Império: 1840-1889. Tese de doutorado em História, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2000. Mimeo.
- Origens da egiptologia. Espaço Plural, (Cepedal/Unioeste - Universidade Estadual do Oeste do Paraná), Marechal Cândido Rondon, ano III, n. 7, março 2001a.
- A origem do imaginário sobre os vikings. Espaço Plural, (Cepedal/Unioeste - Universidade Estadual do Oeste do Paraná), ano III, n. 8, agosto 2001b.
- Os enigmas de um continente: as origens da arqueologia americana (1750-1850). Estudos Ibero-Americanos (PUCRS), vol. XXVII, n. 1, junho 2001d.
- Os vikings no Brasil: origem e significado de um mito arqueológico. Locus (UFJF). No prelo.
- A pedra da Gávea e o imaginário arqueológico do império. Estudos Históricos (UFRJ). No prelo.
- O caso da pedra fenícia da Paraíba e outras polêmicas arqueológicas do Império. Revista de História (Unesp). No prelo.
- A cidade perdida da Bahia. Revista Brasileira de História (USP). No prelo.